|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Página acrescentada em 01 de dezembro de 2014.
Manuel
de Teffé, que muitos erroneamente chamam de Barão de Teffé, nasceu
em Paris em 30 de março de 1905, filho do embaixador Oscar de Teffé
que estava na França a serviço do governo brasileiro, por isso ele
recebeu cidadania brasileira, e seu nome inteiro é Manuel de Teffé
von Hoonholtz. Seu bisavô, o Barão Friedrich Wilhelm von Hoonholtz
veio para o Brasil contratado pelo Marques de Barbacena para exercer
a função de instrutor no Exercito Imperial, tendo aqui chegado em
1825. Já seu avô, o Almirante Antonio Luiz von Hoonholtz, nasceu em
Itaguaí, divisa do Distrito Federal (na época) com o Estado do Rio,
foi agraciado por D.Pedro II com o título brasileiro de Barão pelos
serviços prestados na selva amazônica na delimitação da fronteira
entre o Brasil e o Peru, morreu em 1931 na cidade de Petrópolis
(RJ). Ele foi o primeiro e único Barão de Teffé. Seu avô materno foi
o Comendador Manuel Antonio da Costa Pereira, idealizador e fundador
de uma fábrica de tecidos em Bangu, a conhecida Fábrica Bangu.
Seu pai tinha dois irmãos e uma irmã: Nair de Teffé, ela que foi considerada a primeira mulher caricaturista do mundo e que foi também primeira dama do Brasil ao casar-se em 1913 com o então presidente Hermes da Fonseca (1910/1914). Teffé praticou remo e equitação e aos 14 anos de idade seu pai, que exerceu grande influencia sobre ele com seu exemplo de desportista (foi campeão de florete e espada da Universidade de Paris), o presenteou com uma motocicleta “Terrot” de fabricação francesa. Dois anos depois ganhou um carro Bugatti, tipo Brescia, de 4 cilindros e 16 válvulas, com ele Teffé promoveu tremendas correrias através das pacatas ruas de Petrópolis, motivo pelo qual volta e meia era preso e enviado para a delegacia local, imberbe e sem carteira de motorista, até que o pai o tirava da aflição.
O
embaixador foi então designado para servir em Viena, na Áustria, e
Teffé aproveitou para fazer um estágio na fábrica de automóveis
Graft & Stift. Depois de Viena sua família se mudou para o sul da
França, onde ele teve uma pesada motocicleta Harley Davidson. Quando tinha 22 anos seu pai foi designado embaixador na Itália, então mudaram-se para Roma, e foi lá que Teffé começou “oficialmente” a correr, e foi lá também que se formou em direito. Há algumas referencias dele participando de provas em 1924, que não confirmei. Sobre isso tem uma fala de Teffé na Revista de Automóveis numa entrevista do final dos anos 50:
“-
Mas o grande marco, o fato decisivo de minha carreira
automobilística, aconteceria em Roma para onde meu pai fora
designado como embaixador... 1927, o ano do meu início “oficial”
como corredor. A minha estréia foi brilhante! Nos anos seguintes
tive diversas decepções... Mas é com vitórias e derrotas que se
forja o verdadeiro desportista.” Há registros de sua participação em duas provas em 1925, ambas na Itália e com Alfa Romeo, ficou em 3º lugar em uma e em 4º lugar na categoria Turismo na outra. Em 1927, sempre na Itália, participou de 4 provas, com Alfa Romeo, terminando todas em 1º lugar na categoria.
Iniciou
o ano de 1928 participando da segunda edição da “Mille Miglia”
fazendo dupla com a Baronesa Maria Antonietta d’Avanzzo, primeira
mulher a participar daquela prova, a bordo de um Chrysler 72, mas
abandonaram por pane elétrica. Participou ainda de 3 provas naquele
ano, tirou um 2º lugar na categoria, um 3º lugar na geral e um outro
3º lugar na categoria. Em setembro de 28 participou do “V Congresso Mondiale Automobilistico” em Roma, o Brasil era representado pelo adido comercial da Embaixada Brasileira, Sr. Deoclecio de Souza, assessorado pelo então delegado do Touring Club Brasileiro: Manuel de Teffé, que apresentou longo relatório sobre o incremento da venda de automóveis no Brasil. E foi nesse ano, aos 23 anos de idade, que conheceu e teve um caso com a socialite italiana Wanda Barbini, não se casaram mas tiveram um filho que nasceu em 21 de julho de 1929 na embaixada de Roma, o “bambino” Antonio Luis de Teffé von Hoonholtz ficou com a família materna e quando adulto adotou o nome artístico de Anthony Steffen, passando a atuar nos filmes “western spaghetti” italianos.
Seu pai,
o embaixador Oscar de Teffé parece não ter aprovado seu caso amoroso
e o despachou de volta para o Brasil, mas ainda teve oportunidade de
participar de duas provas, sendo que na “Subida de Cimino” chegou em
3º lugar na categoria. Em 1930 e 31, já no Brasil, não consegui registro de sua participação no automobilismo, mas em 1932 o Automóvel Clube do Brasil fez realizar três provas na estrada Rio-Petrópolis: no dia 28 de fevereiro foi a prova de Subida de Montanha e em 13 de março foi a vez de mais duas provas: uma de Quilômetro Lançado e outra de Quilômetro de Arrancada. Todas foram vencidas pelo alemão Hans Stuck com sua potente Mercedes-Benz SSKL. Stuck havia sido convidado a vir ao Brasil por Manuel de Teffé, que o havia o conhecido nas provas automobilísticas no velho continente.
Com o
sucesso das provas Teffé, já com 28 anos de idade, convenceu o
prefeito do então Distrito Federal, Pedro Ernesto Batista a realizar
uma prova que tivesse caráter internacional. Aceita a idéia foi
criada a “Quinzena do Automobilismo” que consistia na realização de
três provas: o “Quilômetro Lançado”, a “Subida da Montanha” e
fechando, o “I Grande Premio Cidade do Rio de Janeiro” no dia 8 de
outubro de 1933. O local escolhido foi o Circuito da Gávea, um
traçado urbano com quase 12 quilômetros de extensão que contornava o
Morro Dois Irmãos, nessa escolha foi decisiva a participação de
Teffé e Primo Fioresi, ambos automobilistas experientes.
O “I GP
Cidade do Rio de Janeiro” (Circuito da Gávea) tornou-se a primeira
corrida brasileira de nível internacional, e a primeira a fazer
parte do calendário da “Association Internationale des Automobile
Clubs Reconnus”, precursora da F.I.A., e foi vencida por Manuel de
Teffé, que recebeu os cumprimentos do ditador Getúlio Vargas,
presente ao evento, e também um telegrama de felicitações enviado
por Benito Mussolini, premier da Itália (país fabricante da Alfa
Romeo com que correu).
Em 1934
e 35 participou novamente do “Circuito da Gávea” com sua nova Alfa
Romeo 8C 2300 Monza, mas não foi feliz, em ambas chegou acima do 20º
lugar, em 1935 participou também da “500 Milhas de Rafaela”, na
Argentina, onde ficou em 6º lugar na prova vencida pelo polonês
radicado na Argentina, Carlos Zatuszek com Mercedes Benz SSK. Já em
1936 participou de 6 provas sendo 1º na de arrancada, 1º na de
subida de montanha, e nas de corrida: não terminou o “GP
Thermal de Poços de Caldas” (MG); no “Circuito da Gávea”,
classificou-se em 3º, mesma posição que chegou na primeira prova
internacional em São Paulo, o “Grande
Premio Cidade de São Paulo”, encerrou o ano correndo o “I Grande
Premio de Buenos Aires”, chegando em 4º lugar. No ano de 1937 foi proibido de participar do “Circuito da Gávea” em virtude de uma briga com o A.C.B., mas venceu novamente a “Subida de Montanha” em Petrópolis (RJ), e voltou a participar da “500 Milhas de Rafaela”, quando abandonou por problemas mecânicos. Já no ano de 1938 ele voltou à Europa para trabalhar no consulado brasileiro na Suíça, e lá foi convidado pelo Conde Giovanni Lurani para correr pela escuderia Ambrosiana ao lado de um dos maiores pilotos da época, o italiano Luigi Villoresi, e participou de 6 corridas então usando uma Maserati 6CM, com resultados satisfatórios.
Ele
trouxe esse carro para o Brasil e com ele conquistou em 1939 sua
segunda vitória no “Circuito da Gávea”, dessa vez sem a participação
de pilotos estrangeiros devido ao início da II Guerra Mundial, foi
sua única corrida naquele ano. Não participou do “Circuito da Gávea” em 1940 participando apenas do “Grande Premio São Paulo”, prova inaugural do Autódromo de Interlagos, mas não completou, após três paradas nos boxes acabou por abandonar na 14ª volta das 25 realizadas pelo vencedor, Nascimento Junior. No ano de 1941 depois de fazer uma “Subida de Montanha” em Petrópolis voltou a correr na Argentina, dessa vez foi 3º colocado no “I Premio Cidade de Santa Fé” onde enfrentou dificuldades para desembarcar o combustível e por isso teve pouco tempo para treinar, em seguida foi 1º na “Subida da Tijuca” e 3º no “Circuito da Gávea”, novamente só com brasileiros, em 1942 não participou de corridas.
De 1942
a 1945 a crise gerada pela Segunda Guerra Mundial levou o governo
brasileiro a proibir a circulação de veículos movidos a gasolina, e
principalmente as corridas de carro, então a saída foi usar o
gasogênio como combustível. Gasogênio é o nome do combustível obtido
pela queima de carvão, ou lenha, e era chamado de “gás pobre” gerado
num “trambolho” de quase 100 Kg preso na traseira dos automóveis.
Então em 1943 participou de 4 corridas com um Chevrolet equipado com
gasogênio vencendo uma, a “Subida de Montanha” em Petrópolis, no
campeonato Vasco Sameiro, piloto português, residente no Brasil, foi
campeão, seguido de Nascimento Jr.
e com Teffé na 3º colocação, mas depois parou, foi quando teve mais
tempo para exercer suas atividades diplomáticas. Correndo no Circuito da Quinta da Boa Vista em 1946 teve um acidente quando quebrou a barra de direção de seu carro. Além de diplomata, Teffé foi presidente da Comissão Esportiva do Automóvel Clube do Brasil entre 1946 e 1950 e como tal foi arbitro geral da prova “I Premio Crônica Esportiva” em Interlagos em 19/4/48, prova vencida por Arlindo Aguiar, e diretor geral da corrida “I Grande Premio Cidade de Santos” (SP) em 26/12/48.
Nesse
período ia progredindo na carreira diplomática exercendo missões em
alguns países. Só voltou a correr em 1950 quando fez três provas de
subida de montanha com boas colocações, e disputou o “Circuito da
Quinta da Boa Vista” (RJ) onde Juan Manuel Fangio venceu com
Chico
Landi em segundo e ele em 6º lugar.
Em agosto de 1951 estava inscrito para participar ao lado de Primo Fioresi da "24 Horas de Interlagos - Mercedes Benz", mas não pode vir, sendo substituído por Fernando Magalhães. No dia 30 de outubro chegou ao Brasil, a passeio, a milionária tcheca Dana Edita Fischerova vinda do México, onde havia se separado de seu segundo marido, o jornalista mexicano Carlos Denegri. Aqui, em uma recepção, conheceu o diplomata Manuel de Teffé e começaram um romance, casaram-se seis meses depois no México para onde ele foi designado Segundo Secretário da embaixada brasileira, mas antes de partir ainda participou, em fevereiro de 52, do “Circuito da Quinta da Boa Vista” (RJ), voltando a usar uma Alfa Romeo, classificando-se em 7º lugar. Ao chegar ao México encontrou seu amigo o príncipe alemão Alfonz von Metternich e esse o convidou a participar em dupla da terceira edição da “Carrera Panamericana” em um Porsche 356, a prova cortava as cidades de Tuxtla Gutierrez e Juarez, na fronteira do México com os Estados Unidos, tendo mais de três mil quilômetros. O regulamento permitia que ambos pilotassem, não havendo um piloto e um navegador, os vencedores foram os alemães Karl Kling/Hans Klenk (Mercedes Benz 300SL) e eles chegaram em 8º na geral e 5º na categoria Sport, depois de 23 horas de prova.
“-
Dirigíamos em estradas variadas e fizemos a corrida a uma velocidade
de 135 km/h”.
Disse
numa entrevista de 1965. Foi promovido em 1953 a Primeiro Secretário e transferido para Montevideo no Uruguai, onde ficou até 1956, indo para nosso consulado em Toronto no Canadá, lá ele participou no mês de setembro da prova automobilística “Indian Summer Trophy Race”, com uma Maserati A6GCS, não se sabe sua classificação, e em dezembro participou daquela que se tornaria, talvez, sua ultima prova, “Governor’s Trophy 2000cc”, no Windsor Air Field, onde hoje é o Lynden Pindling International Airport, em Nassau capital da Bahamas no Caribe, chegou em 34º lugar na geral e em 19º na Categoria E. O casal Manuel e Dana de Teffé retornou ao Brasil em 1958, indo morar em Copacabana no Rio de Janeiro, não tiveram filhos e o casamento durou até 1960 ou 61. Teffé mesmo não correndo mantinha-se próximo ao automobilismo.
Na
inauguração de Brasília em 1960 ele idealizou e colaborou na
organização do “I G. P. Juscelino Kubitschek” em 23/04/1960. Seu
nome chegou a aparecer entre os inscritos na prova de turismo acima
de 1300cc. e há uma referencia na Folha de que não completou a
prova, mas sua participação é muito duvidosa, se aconteceu foi essa
sua ultima corrida.
Teffé
foi mandado em 1961 para Marselha, no sul da França, para exercer as
funções de Cônsul Geral, e Dana desapareceu durante uma viagem de
carro à São Paulo, em 19 de junho de 61, que fazia em companhia do
advogado que cuidara da separação e a representava, inclusive com
procuração para cuidar de seus bens (que ele passou para seu nome
tão logo ela sumiu), ele chegou a ser acusado e preso, mas em
julgamentos posteriores acabou absolvido pois nunca encontraram o
corpo dela. Em 1965 foi promovido a Ministro de Segunda Classe e transferido para Honduras na América Central como Embaixador Extraordinário. Teffé morreu pouco depois com quase 62 anos de idade, em 1 de janeiro de 1967, no Hospital dos Servidores no Rio de Janeiro e foi sepultado em Petrópolis.
|
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||